Linhas de pesquisa
Pesquisa atual: Metafísica, linguagem, arte e ciência: ecos nietzscheanos, pensamentos nacionais
Descrição: A pesquisa se desenvolve em frentes distintas, interconectadas a partir da obra crítica de Nietzsche e seus reflexos sobre alguns escritores e obras - sobretudo no campo literário, mas também nos chamados estudos brasileiros -, e também, por outro lado e não menos importante, sobre sua herança no interior de perspectivas científicas recentemente propostas a partir do que podemos chamar de uma epistemologia dos saberes etnocêntricos. Trata-se de investigar autores aparentemente desconectados, ou aproximados de modo tangencial, que guardam laços de afinidade que precisam ser compreendidos não apenas a partir do que comumente chamamos de recepção de Nietzsche no Brasil, mas ligados a um movimento de revisão e formação crítica que vem se construindo ao longo do século XX, mormente depois do modernismo, e que alcança o século XXI com um vigor que não pode ser ignorado pela filosofia, pois lhe é em grande medida devedor, como pretendo demonstrar. Partindo do início do século XX, quando as obras de Nietzsche começam a ser lidas no Brasil, a pesquisa distingue quatro pares de autores: Monteiro Lobato e Oswald de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda e Euclides da Cunha, Guimarães Rosa e Clarice Lispector e alcança tanto a antropologia filosófica de Eduardo Viveiros de Castro quanto a cosmogonia de Davi Kopenawa. Como seria possível defender alguma forma influência de Nietzsche sobre esses nomes diversos? Ou, dito de outro modo, como a filosofia, a literatura, a sociologia, a ciências e as artes do Brasil fazem ressoar direta ou indiretamente a ética, a estética e a gaia ciência nietzscheana no interior de seus deslocamentos ibéricos? O trabalho pretende mostrar que influência não é apenas a leitura e a citação direta de uma obra por determinados autores, mas sobretudo sua assimilação ética e programática sobre uma época. O projeto parte de uma premissa e de uma questão inquietante: 1. [a premissa] no final do século XIX Nietzsche forjou a primeira grande suspeita sobre a modernidade, prognósticos que vieram a se realizar de modo peremptório com o advento do Terceiro Reich, realização total do niilismo por ele mesmo diagnosticado, com desdobramentos sobre a cena política internacional ainda hoje sentidos de modo efetivo; e 2. [a questão] não estaríamos às margens de uma segunda catástrofe internacional, gestando o ambiente ideal para a reedição de uma desagregação de alcance mundial e cujas consequências são imprevisíveis ou, o que parece mais grave, insondáveis? Este projeto de pesquisa visa incorporar a uma discussão mais ampla sobre o legado de Nietzsche algumas questões internas sobre sua particular recepção brasileira, não para destacar essa leitura periférica como algo fora da Pesquisa-Nietzsche, mas dentro e eventualmente para além dela. A finalidade é tentar contribuir para um debate atual necessário e urgente, sem descuidar das implicações histórico-filosóficas de algumas obras brasileiras, que podem ser relidas nesse quadro onde o niilismo se reinscreve como uma contribuição rediviva de um programa filosófico multiculturalista.